Animais de sonho - James Hillman.txt

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ANIMAIS DE SONHO

Texto James Hillman
Ilustração Margot Mc Lean

Orelha I 

Autor aclamado de "O código da Alma" e um dos nossos mais provocantes autores junguianos, James Hillman se une à artista Margot Mc Lean nesta extraordinária parceria, uma reflexão de assombrosa beleza sobre presença e ausência dos animais em nossas vidas, em vigília, e, consequentemente em nossos sonhos, imaginação, emoções e pensamentos.
Animais de sonho" entrelaça arte e psicologia, sonho e símbolo, junguianismo e conhecimento unidos a pinturas evocativas que ressoam com os ensaios absorventes de Hillman.
Uma meditação penetrante sobre as implicações da perda da nossa consciência sobre o imaginário animal.
"Animais de Sonho" é a união perfeita da palavra e do símbolo.

Orelha II

James Hillman tornou-se o primeiro diretor do Instituto Junguiano de Zurich em 1959. Eleito pelo "Utne Reader's" como "uma das 100 mais importantes pessoas que podem mudar sua vida", escreveu mais de 20 livros incluindo "O código da alma", "O suicídio e a alma" e "Revisando a Psicologia", este último citado como concorrente ao prêmio Pulitzer. Vive em Connecticut e editou com Robert Bly "A loja de trapos e ossos do coração" (espero que Dr Hillman desculpe a presunção de traduzir também os títulos de suas obras).
Margot Mc Lean é uma artista plástica que vive em Nova Yorque desde o fim da década de 70. Recebeu numerosas bolsas de estudo e o seu trabalho está representado não só nos Estados Unidos mas também no exterior.
Como artista e professora tem dado sua contribuição ecológica focalizada nos mundos animal e botânico.

Contracapa (comentário da romancista sino-americana Any Can):

"Este é um livro de cabeceira sensual para a imaginação, um antídoto contra a apatia. As observações de Hillman e as pinturas de Mc Lean são uma colaboração gratificante que mudará sua maneira de encarar os sonhos, as almas e os verdadeiros animais entre nós".

Prefácio: 

Às vezes você os vê, às vezes, não. - Um bate-papo entre o autor e a artista.
Hillman - Este livro começou em Hartford quando...
Margot - ... você veio à minha exposição!
Hillman - "A floresta metafórica". Eu vi a maneira como você pintava os animais. Lembro-me especialmente, da cheetach.
Margot - Era realmente uma pequena pintura no meio de um ambiente grandemente competitivo. Interessante você se lembrar justamente desta.
Hillman - Foi a tênue realidade do animal que, ao mesmo, estava e não estava lá, parecendo-se muito com os animais em nossos sonhos que podem ser tão aterrorizantes, tão espantosos e, ainda assim, são apenas sonhos. Você parecia ter captado numa pintura, algo em que trabalho ensinando por 30 anos, tentando colocar em palavras.
Margot - mas eu não pintava animais de sonho. Estas pinturas que faço desde a metade da década de 80 não são representações do meus sonhos. Tem mais correlação com o mundo animal real num mundo irreal. Os animais estão em outro lugar. E, sim, em nível mais profundo, estas pinturas são uma espécie de reconhecimento, de aceitação.
Hillman - Em benefício deles?
Margot - Não somente. Em nosso benefício também. Nós somos animais e estes animais estão ligados aos nossos corpos. Por esta razão, dei a muitas destas pinturas, nomes anatômicos: para enfatizar esta conexão, este parentesco.
Hillman - E destino comum. O que acontece a eles, nos acontece. A sua extinção é também a nossa.
Margot - Sim, a extinção deles está no meu pensamento, naturalmente, como está, ou deveria, no pensamento de todos, suponho. Mas estas pinturas nunca pretenderam ser, especificamente, sobre extinção. É extraordinária a rapidez com que as pessoas reagem: "Oh, espécies ameaçadas!" Esta, se transformou ultimamente, numa frase perturbadora para mim porque "espécies em extinção" se transformou em outra categoria de síndrome e perdeu seu fundamento emocional. Além do mais estas pinturas não são, somente, de espécies em extinção. Elas tratam de espécies. Não são mensagens para prevenir desastre ou perda mas são, antes, imagens do espírito do animal com sua própria vida autônoma, sua presença e sua ausência. Eles vão e vem e você tenta captá-los com os olhos da mente e tenta que se materializem e parem sem perder este sentido de rapidez e sutileza de movimento que não se pode aferir completamente. O que, exatamente, você vê cruzando, rapidamente, seu caminho, ou, em frente do seu carro ou, através da sua janela? Há criaturas incríveis "lá fora" vivendo conosco neste planeta e, somente, porque não estão sempre frente a frente conosco, não quer dizer que não tenham uma posição importante.
Hillman - Veja, isto é onde seu trabalho expressa o que venho tentando dizer por anos. A imaginação é, em si mesma, um grande animal ou uma arca de imagens vivas que se movimentam independentemente. Elas vêm e vão. Todas as formas e tamanhos. Algumas imagens nos acompanham como um cão leal ou uma vaca. Outras são tão sombrias e trêmulas, que é impossível captá-las.
Margot - Eu perdi uma quantidade de animais que não se fixaram na pintura. Tentei e tentei e tive que abandoná-los.
Hillman - Animais acordam a imaginação. Você vê um veado ao lado da estrada ou gansos voando em formação e se torna hiper alerta. Descobri que sonhos com animais podem, também, fazer a mesma coisa. Eles realmente sacodem as pessoas. Sonhos animais provocam sentimentos, deixam-nos interessados e curiosos. Enfim, põem as pessoas para pensar. A medida que mergulhamos mais na imaginação, nos tornamos mais parecidos com animais. Não quero dizer bestiais, mas com os instintos mais avivados, com mais paladar, olfato mais apurado e audição mais alerta. Como disse Junge, o velho homem sábio é, na realidade, um macaco. Assim, talvez eu tenha uma intenção terapêutica com este livro. Quero fazer algo pelos animais mas, também, quero atingir pessoas ou melhor, eu as quero mais próximas deste macaco, embora isto possa não ser muito terapêutico para o macaco! Você sabe, as pessoas procuram a terapia, na verdade, como uma benção. Não, realmente, para reparar o que está quebrado, mas para abençoá-lo. Em muitas culturas os animais praticam a benção já que são considerados divindades. Por esta razão é que partes de animais são usadas em remédios e rituais de cura. Bênçãos por animais ainda ocorrem, em nossas vidas civilizadas também. Digamos que haja um lado mais esperto e mais rápido na sua personalidade. Algumas vezes você mente, tem tendência a praticar roubos, em lojas, o fogo o excita, você é difícil de se descobrir  e difícil de ser apanhado, você tem um olfato tão apurado que as pessoas não querem fazer negócios com você por medo de serem ludibriadas. Então, você sonha com uma raposa! Agora, esta raposa não é meramente uma miragem do seu "problema de sombra", da sua propensão ao roubo. Esta raposa fornece  também um embasamento arquétipico dos seus traços comportamentais, colocando-os, mais profundamente, na natureza das coisas. A raposa aparece no seu sonho como uma espécie de professora, um animal médico que conhece suas características muito mais do que você próprio. E, isso, é uma bênção. Em lugar de sintomas ou uma desordem de caráter, você tem agora uma raposa com quem viver e, é preciso que vocês se vigiem mutuamente.
Margot - mas eu não gostaria de esquecer a raposa real. Eu gostaria de ver o mesmo respeito oferecido ao animal real, onde quer que ele apareça. Acho que é importante ver o animal como você faz em sonhos mas, mas os animais dos sonhos não devem ser segregados dos que vivem no seu quintal ou nos bosques. Devemos ser cuidadosos ao adotarmos um "animal interior" para que a conexão com o mundo animal não seja reduzida a um condição de "se sentir bem consigo mesmo". Há mais que isto.
Hillman - Correto! As terapias que falam sobre animais espirituais e guias, esquecem esta tristeza. Tente olhar nos olhos de um cão. Há um alma no animal, uma alma de tristeza antiga. Há uma tristeza na alma do mundo natural. Tudo o que você tem que fazer é ficar numa floresta ou num campo e você sente isto...
Margot - ... e vê isto!
Hillman - Voltemos aos animais. Não são aqueles que podemos ver nos documentários naturalistas da TV. A sensação fugidia na sua pintura com a qualidade, indeterminadamente, transitória dos animais, e os seus significados ambíguos nos sonhos, nada têm que se relacione com o sentimentalismo nostálgico sobre a extinção das espécies como tratada na TV.
Margot - Um pouco de nostalgia não faz mal. Entretanto é importante para mim que estas pinturas não sejam reduzidas a uma nostalgia mono-dimensional.
Hillman - A nostalgia é arquetípica. Ela toca o desejo do Éden, da arca, da terra da Arcádia de natureza pastoril, onde o leão e a ovelha repousam juntos. A nostalgia é, também, muito americana. Assim, suponho que um pouco de nostalgia se relacione com os nossos sentimentos em face dos animais. Talvez eles sejam, também, nostálgicos e nos olhem desejando que estivêssemos, todos, de volta ao paraíso ou à Arcádia, antes dos pesticidas e  matadouros.
Margot - Os animais atuais não são nostálgicos. Eles se sintonizam com o nosso tempo. Veados, quatis, gambás, coiotes, porcos selvagens e ursos estão chegando cada vez mais perto de nós. As cidades estão cheias de vida selvagem.
Hillman - Mas os seus movimentos de necessidade e sobrevivência não estão restaurando a Arcádia. De fato, nós colocamos avisos alertadores sobre a raiva animal e a doença de Lyme... Nós, verdadeiramente, não os queremos muito próximos. À despeito das férias nos safaris, das ligações e da nostalgia, existe, ainda, um profundo fosso entre nós e os animais. Nós ansiamos pela presença deles de um modo subliminar. O nosso comportamento, entretanto, os mantém "lá fora".
Margot - Correto. Esta é a razão pela qual os animais nas minhas pinturas não estão completamente "lá", completamente ...
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