Dion Fortune - Cabala Mistica.pdf

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A Cabala Mística
Dion Fortune
Título original:
Mystical Qabalah
Publicação Original em 1935.
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I. A IOGA DO OCIDENTE
A CABALA MÍSTICA
1. São poucos os estudantes de ocultismo que sabem alguma coisa a
respeito da fonte de onde surgiu a sua tradição. Muitos deles sequer sabem
que existe uma Tradição Ocidental. Os eruditos sentem-se perplexos diante
dos subterfúgios a das defesas intencionais de que se valeram tanto os
iniciados antigos como os modernos para ocultar-se, a concluem que os
poucos fragmentos que ainda nos restam dessa literatura não passam de
contrafações medievais. Muito se espantariam eles se soubessem que esses
mesmos fragmentos, suplementados por manuscritos que jamais se
permitiu saírem das mãos dos iniciados, a complementados por uma
tradição oral, ainda são transmitidos até hoje nas escolas de iniciação,
constituindo a base do trabalho prático da ioga do Ocidente.
2. Os adeptos das raças cujo destino evolutivo consiste em conquistar
o plano físico desenvolveram uma técnica ióguica própria que se adapta aos
seus problemas especiais a às suas necessidades peculiares. Essa técnica
baseia-se na bem conhecida, mas pouco compreendida Cabala, a Sabedoria
de Israel.
3. Poder-se-á perguntar por que as nações ocidentais teriam qualquer
razão para procurar a sua tradição mística na cultura hebraica. A resposta a
essa questão será facilmente compreendida por aqueles que estão
familiarizados com a teoria esotérica relativa às raças a sub-raças. Tudo
tem uma fonte. As culturas não brotam do nada. As sementes de cada nova
fase de cultura devem surgir necessariamente da cultura anterior. Não
podemos negar que o judaísmo foi a matriz da cultura espiritual européia,
quando recordamos que tanto Jesus como São Paulo eram judeus.
Nenhuma outra raça além da judia poderia ter fornecido a base para uma
nova revelação, visto que nenhuma outra raça abraçava um credo
monoteísta. O panteísmo e o, politeísmo tiveram seus dias de esplendor,
mas uma nova cultura, mais espiritual, se tomou necessária. As raças
cristãs devem sua religião à cultura judia, assim como as raças budistas do
Oriente devem a sua à cultura hindu.
4. O misticismo de Israel fornece os fundamentos do moderno
ocultismo ocidental, a constitui o fundo teórico com base no qual se
desenvolveram os rituais ocultistas do Ocidente. Seu famoso hieróglifo, a
Árvore da Vida, é o melhor símbolo de meditação que possuímos,
exatamente porque é o mais compreensível.
5. Não é minha intenção escrever um estudo histórico sobre as fontes
da Cabala, mas, antes, mostrar o emprego que dela fazem os modernos
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estudantes dos Mistérios. Embora as raízes de nosso sistema estejam na
tradição; não há razão alguma para que esta nos escravize. Uma técnica
empregada nos dias que correm é um processo que está em pleno
desenvolvimento, pois a experiência de cada trabalhador a enriquece a se
torna parte integrante da herança comum.
6. Não devemos necessariamente seguir tais a tais atitudes ou manter
tais a tais idéias apenas porque os rabinos que viveram antes de Cristo
assim o determinaram. O mundo não deteve sua marcha na era dos rabinos,
e vivemos hoje uma nova revelação. Mas o que era verdadeiro - em
princípio no passado é verdadeiro - em princípio - na atualidade e, por
conseguinte, de muito valor para nós. O cabalista moderno é o herdeiro da
Cabala antiga, mas cabe-lhe reinterpretar a doutrina a reformular o método
à luz da revelação atual, caso queira extrair dessa herança algum valor
prático para si.
7. Não pretendo que os modernos ensinamentos cabalísticos, tal
como os que aprendi, sejam idênticos aos dos rabinos pré-cristãos, mas
afirmo que esses ensinamentos são os legítimos descendentes daqueles,
constituindo o desenvolvimento natural que deles proveio.
8. Quanto mais próxima estiver da nascente, mais pura será a água do
rio. Para descobrir os princípios primeiros, devemos it à fonte-mãe. Mas
um rio recebe muitos afluentes em seu curso, a estes não estão
necessariamente poluídos. Se desejamos descobrir se a água desses
afluentes é pura ou não, basta-nos compará-la com a corrente original; se
ela passa por esse teste, da impede que se misture com as águas principais a
aumente sua força. Ocorre o mesmo com uma tradição: o que não é
antagônico deve ser assimilado: Devemos sempre testar a pureza de uma
tradição no que respeita aos princípios primeiros, mas devemos igualmente
julgar a vitalidade de uma tradição por sua capacidade de assimilação.
Apenas a fé morta não recebe' fluências do pensamento contemporâneo.
9. A corrente original do misticismo hebraico recebeu muitas
adições. A sua culminação ocorreu entre os nômades adoradores de estrelas
da Caldéia, onde Abraão, em sua tenda, rodeado pelos rebanhos, ouvia a
voz de Deus. Mas Abraão defrontava-se também com um sombrio pano de
fundo, em que vastas formas se moviam semi-distintas. A misteriosa figura
de um grande rei-sacerdote, "nascido sem pai, sem mãe, sem descendência,
que não tinha nem princípio nem fim", concedeu-lhe a primeira ceia
eucarística de pão a vinho após a batalha com os reis do vale, os sinistros
reis de Edom, "que governaram antes que houvesse um rei em Israel, cujos
reinos eram forças desorganizadas".
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A CABALA MÍSTICA
10. De geração em geração, podemos traçar o relacionamento dos
príncipes de Israel com os reis-sacerdotes do Egito. Abraão a Jacó por lá
passaram; José a Moisés estiveram intimamente associados à corte dos
adeptos reais. Quando lemos que Salomão se dirigiu a Hiram, rei de Tiro,
solicitando-lhe homens a materiais para a construção do Templo,
aprendemos que os famosos Mistérios de Tiro devem ter influenciado
profundamente o esoterismo hebraico. Quando lemos que Daniel foi
educado nos palácios da Babilônia, aprendemos que a sabedoria dos Magi
deve ter sido acessível aos iluminati hebreus.
11. A antiga tradição mística dos hebreus possuía três escrituras: os
Livros da Lei e dos Profetas, que conhecemos como Velho Testamento; o
Talmude, ou coleção de comentários eruditos sobre aquele; e a Cabala, ou
interpretação mística do mesmo livro. Desses três livros, dizem os antigos
rabinos que o primeiro é o corpo da tradição; o segundo, a sua alma
racional; e o terceiro, o seu espírito imortal. Os homens ignorantes lêem
com proveito o primeiro; os homens eruditos estudam o segundo; mas o
sábio medita sobre o terceiro. É realmente muito estranho que a exegese
cristã jamais tenha buscado as chaves do Velho Testamento na Cabala.
12. No tempo de Nosso Senhor, havia três escolas de pensamento
religioso na Palestina: a dos fariseus a dos saduceus, sobre os quais temos
muitas informações nos Evangelhos, e a dos essênios, a quem nunca se faz
referência. A tradição esotérica afirma que o menino Jesus ben Joseph, na
idade de doze anos, foi encaminhado, pelos eruditos doutores da Lei, que O
ouviram a Lhe reconheceram o valor, à comunidade essênia localizada nas
proximidades do Mar Morto, para ali ser treinado na tradição mística de
Israel, a que Ele permaneceu nessa comunidade até dirigir-se a João, a fim
de receber o batismo no rio Jordão antes do início de Sua missão,
empreendida aos trinta anos. Seja como for, o fato é que a frase final do
"Pai nosso" é puro cabalismo. Malkuth, o Reino, Hod, a Glória, Netzach, o
Poder, constituem o triângulo básico da Árvore da Vida, tendo Yesod, o
Fundamento ou Receptáculo de Influências, como ponto central. Quem
formulou essa oração conhecia muito bem a Cabala.
13. O esoterismo cristão baseia-se na Gnose, que, por sua vez, radica
tanto no pensamento grego como no egípcio. O sistema pitagorico constitui
uma adaptação dos princípios cabalísticos ao misticismo grego.
14. A seção exotérica da Igreja Cristã,organizada pelo Estado,
perseguiu a aniquilou a seção esotérica, destruindo-lhe toda a literatura a
lutando por apagar da história humana a própria lembrança de uma doutrina
gnóstica. Registra a história que as termas a as padarias de Alexandria
foram fomentadas durante seis meses com os manuscritos retirados da
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grande biblioteca. Pouco nos restou da herança espiritual da sabedoria
antiga. Tudo o que estava acima do solo foi arrancado, e é apenas com a
escavação dos antigos monumentos encobertos pela areia que estamos
começando a redescobrir-lhe os fragmentos.
15. Só depois do século XV, quando o poder da Igreja começou
mostrar sinais de fraqueza, ousaram os homens confiar ao papel a
tradicional Sabedoria de Israel. Os eruditos declaram que a Cabala é uma
fantasia medieval, pois não lhe podem traçar a sucessão desde os
manuscritos primitivos. Mas aqueles que conhecem o sistema de trabalho
das fraternidades esotéricas sabem que toda uma cosmogonia a toda uma
psicologia podem !0, r ocultadas num hieróglifo que, para o não-iniciado,
não tem qualquer sentido. Esses estranhos a antigos diagramas foram
passados de geração para geração, e a explicação que os acompanha,
transmitida apenas verbalmente, de modo que a verdadeira interpretação
jamais se perdeu. Quando existia alguma dúvida quanto à explicação de
algum ponto abstruso, recorria-se ao hieróglifo sagrado, e a meditação
sobre ele comunicava o que gerações de trabalho meditativo haviam nele
infundido. Sabem muito bem os místicos que, se alguém medita sobre um
símbolo ao qual a meditação do passado associou certas idéias, tal pessoa
terá acesso a essas mesmas idéias, ainda que o hieróglifo jamais lhe tenha
sido explicado por aqueles que receberam a tradição oral "da boca ao
ouvido".
16. A força temporal organizada da Igreja expulsou seus rivais de
campo a destruiu-lhes os vestígios. Pouco sabemos das sementes que
brotaram a logo foram cortadas durante a Idade Negra, mas o misticismo é
inerente à raça humana e, embora a Igreja tenha destruído todas as raízes
tradição em sua alma grupal, os espíritos devotos de seu próprio rebanho
redescobriram a técnica da união entre a alma a Deus a desenvolveram uma
ioga característica, estreitamente semelhante à ioga Bhakti do Oriente. A
literatura do catolicismo é rica em tratados sobre teologia mística que relam
uma familiaridade prática com os estados superiores de consciência,
embora apresentem uma concepção um tanto quanto ingênua da psicologia
desse fenômeno, revelando assim a pobreza de um sistema que não dispõe
da experiência fornecida pela tradição.
17. A ioga Bhakti da Igreja Católica só é adequada àqueles cujo
temperamento é naturalmente devocional a que descobrem no auto-
sacrifício amoroso a sua expressão mais espontânea. Mas nem todos têm
esse temperamento, e é uma pena que o Cristianismo não tenha outros
sistemas a oferecer aos seus devotos. O Oriente, por ser tolerante, é sábio, a
desenvolveu vários métodos ióguicos. Cada um desses métodos pode ser
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